CESSACIONISMO, e CONTINUISMO
O que é cessacionismo? Grosso modo, o cessacionismo é a
concepção doutrinária que afirma que os chamados “dons espetaculares”
mencionados no NT deixaram de existir ao fim da era apostólica. Esses dons
abrangiam, especialmente, línguas, profecias, curas e milagres. Uma ressalva
importante é que o cessacionismo não nega que Deus, ainda hoje, realiza obras
grandiosas, seja no campo da comunicação ou da saúde, interferindo na ordem
natural das coisas. Porém, os cessacionistas ensinam que isso não decorre do
exercício de dons especiais dados a este ou aquele indivíduo em particular, mas
sim das orações do povo de Deus em geral.
Os cessacionistas também ensinam que mesmo os milagres
atuais são bastante raros, o que não era o caso nos tempos em que os dons
mencionados existiam. De fato, na época em que esses dons estavam em vigor, os
milagres eram extremamente numerosos (At 5.12-16; 8.4-8; 28.7-10) e não se sabe
de nenhum caso em que, ao ministrar a cura, o servo de Deus tenha falhado -
algo bem diferente daquilo que se vê hoje em dia, quando supostos detentores desses
dons constantemente determinam curas que nunca acontecem.
Em que se baseia o cessacionismo? Em primeiro lugar, o
cessacionismo se baseia nas Escrituras. A Palavra de Deus mostra que as eras de
milagres foram poucas ao longo da história bíblica, abrangendo apenas os tempos
do Êxodo, os dias de Elias e Eliseu e os tempos de Jesus e dos apóstolos. Todas
essas épocas tiveram duração limitada e serviram a propósitos específicos que,
quando atingidos, puseram fim ao tempo de constantes intervenções divinas sobrenaturais.
No caso dos sinais existentes no período apostólico, o autor de Hebreus ensina
que seu propósito foi autenticar a mensagem do Evangelho ao tempo do seu
surgimento, provando a todos que ela era verdadeira (Hb 2.3-4). Tendo sido
feita essa autenticação, o propósito central dos milagres foi alcançado e sua
frequência começou a cair. Na verdade, o NT mostra que já nos primeiros anos da
década de 60 AD, os milagres eram raros e que o dom de curas não existia mais
(Fp 2.26-27; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20).
O cessacionismo também se baseia na observação inteligente
dos fatos. Com efeito, basta o crente olhar à sua volta para perceber que
ninguém mais tem hoje os dons de línguas, profecias ou curas. Tudo o que se vê
na atualidade são arremedos grosseiros desses dons - teatros cuja
artificialidade pode ser percebida por qualquer criança e que só servem para
prejudicar a causa do Evangelho, lançando-a em total descrédito.
A vertente que se opõe ao cessacionismo é chamada
“continuísmo”. Assim, os continuístas acreditam que todos os dons espetaculares
ainda estão em vigor, da mesma forma como funcionavam nos dias dos apóstolos.
Porém, se você pedir para um continuísta mostrar alguém que tenha tais dons, ou
mesmo uma igreja em que esses dons estejam em pleno funcionamento, você ouvirá
respostas incríveis e talvez seja acusado de incredulidade. Recentemente fiz
perguntas nas redes sociais relativas a existência desses dons e obtive as
seguintes explicações: “O dom de línguas existe, mas só o dom de línguas
angélicas. Línguas humanas cessaram”; “Os dons de sinais só aparecem em
períodos de avivamento”; “Deus é invisível e, mesmo assim, cremos nele. Com os
dons de sinais ocorre a mesma coisa”; “Você pediu um endereço onde há alguém
com o dom de curas. Tome aqui o meu endereço, mas saiba que eu nunca curei
ninguém” (!!??).
Você também se surpreenderá se começar a procurar alguém que
tenha sido curado milagrosamente pela ação de um crente que tenha o dom de
curas. Num país com igrejas pentecostais espalhadas em cada esquina, todas
continuístas, você ficará perplexo ao ver que não há um cego sequer que tenha
sido curado nelas, mesmo naquelas que estão funcionando a décadas. Na prática,
portanto, o continuísmo é uma piada de mal gosto - uma crendice ingênua sem
qualquer relação com os fatos.
Os danos causados à igreja pelo continuísmo são
incalculáveis. Essa concepção abriu as portas para todo charlatanismo,
curandeirismo, superstição, desvios doutrinários e escândalos que se vê agora
no meio evangélico. Na verdade, parte da tarefa dos cessacionistas é limpar
toda a sujeira produzida pelos continuístas, abrindo os olhos das pessoas e
socorrendo aqueles que, acreditando em promessas vazias de curas e em profecias
falsas, caíram em frustração, apostasia e desgraça.
Tendo em vista o impacto danoso que o continuísmo tem sobre
o nosso povo, é certo que a saúde e o sucesso da igreja no futuro dependerão do
trabalho dos cessacionistas que, mesmo debaixo dos ataques, calúnias e rancores
da maioria, estiverem dispostos a desmascarar fábulas insanas, proclamando a
todos o evangelho puro, centrado na salvação e na santificação do pecador, bem
longe de sonhos, visões e curas imaginárias.